ice baladas
- larissashanti
- 21 de set.
- 3 min de leitura
café, gelo e boas conversas
Em Florianópolis, o banho de gelo se firma como prática de autocuidado: um mergulho gelado que fortalece corpo, mente e espírito.
Era 24 de dezembro de 2015, quando Michel Bruggeman resolveu fazer um treino de pedal antes da ceia
de Natal. Experiente em anos de triathlon, treinos rigorosos e esportes de alta intensidade, Michel havia se acostumado a viver no limite, mas, naquele sábado, uma sensação que começara como uma pressão
estranha no peito e molares durante o treino, horas depois, enquanto escolhia camarões frescos em Santo Antônio de Lisboa, se transformou em ondas terríveis de dor!
Sozinho, Michel entrou no carro e dirigiu por dois hospitais fechados até finalmente encontrar um pronto-socorro aberto. Estacionou, caminhou até a recepção e esperou. Trinta minutos depois, veio o diagnóstico: estava tendo um ataque cardíaco.

Anos depois, com diversas provas de longa duração completadas, dentre elas o IronMan Floripa, a memória do acidente, e a forma que conduziu sua história, lhe despertou um “insight” renovado sobre a vida e o bem-estar, condensando-se a uma pergunta chave: “O que me trouxe até aqui e o que me traz
longevidade?”. A essa resposta, um dos elementos que ele credita foi a filosofi a que passou a seguir com seriedade e fascínio: a Vida Intermitente.
“A Vida Intermitente parte da ideia de que o corpo precisa passar, de forma controlada, por certos estresses naturais (Hórmese)”. Explica ele. “Ela propõe que uma vida com frio e fome pontuais devolve ao corpo e à mente a clareza que a rotina nos rouba. E é justamente isso que a Vida Intermitente faz: provoca esse fenômeno ao expor o corpo, de forma leve e intencional, a estressores como calor, frio...”.
Em 2023, aplicando os conceitos da Vida Intermitente, Michel criou, em Florianópolis, as Ice Baladas: encontros ao ar livre que misturam respiração, café fresco e, claro, banheiras geladas.

“Ao contrário do que a crença popular diz, a água não precisa ser congelante para fazer efeito. Dez a doze graus Celsius é o suficiente para gerar benefícios fisiológicos e, principalmente, mentais”, diz com a serenidade de quem já viu muita coisa.
Nós, do Jornal OFFLINE, estivemos em uma dessas experiências. Fomos até a praia do Campeche, onde, em uma manhã de sol, pessoas de diferentes idades e histórias mergulharam, literalmente, em suas fronteiras internas. O “nado no gelo”, como Michel chama, mistura técnica, coragem e uma boa dose de superação.
No fim do evento, conversamos com um dos participantes e perguntamos sobre a sensação. A resposta veio entre dentes trêmulos e olhos brilhantes:

“Os dois primeiros minutos foram os mais difíceis, mas depois comecei a me acalmar e até a curtir a parada. Quando deu seis minutos e o cronômetro apitou, eu olhei em volta, vi a galera sorrindo, batendo palma... e pensei: cara, eu aguento qualquer coisa”.
Entre abraços que pareciam picolés e um sol que finalmente aquecia a pele, a experiência com o gelo revelou-se muito mais do que uma prática de bem-estar. Foi um rito moderno. Uma pequena revolução interior, capaz de lembrar que viver é, também, saber atravessar o desconforto e sair do outro lado com vontade de fazer de novo.




