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o paisagismo como caminho

  • larissashanti
  • 21 de set.
  • 3 min de leitura

As manhãs de sábado da infância de Juliana Castro tinham um ritmo único; enquanto a música preenchia a casa, seus pais caminhavam pelo jardim com xícaras de café na mão, regando plantas e observando os passarinhos que chegavam para se alimentar. Herança de gerações que cultivavam flores e hortas com o mesmo cuidado com que se cuida de quem se ama, o quintal não era apenas cenário, era parte da vida em família. A natureza não era algo distante ou exótico, era companhia de infância.


Todas as imagens desta página são provenientes do arquivo pessoal de Juliana Castro
Todas as imagens desta página são provenientes do arquivo pessoal de Juliana Castro

Foi nesse ambiente que Juliana e sua irmã Clarice cresceram, inventando comidas imaginárias com flores, colecionando besouros e formigas, sentindo que a grama, as árvores e o mar faziam parte de seu próprio corpo. Clarice seguiu para a engenharia, Juliana para a arquitetura, mas as duas carregaram o mesmo fio invisível: o desejo de manter viva a relação entre pessoas e natureza.


No meio da faculdade, o fio reverberou em estudos teóricos, levando Juliana a assistir aulas de botânica na Biologia e na Agronomia da UFSC. Esse mergulho foi um divisor de águas. “Foi como no filme Matrix”, ela conta, “quando o personagem descobre que não estava vendo a realidade”. De repente, cada restinga, cada árvore urbana, cada erva que brotava sozinha na calçada passou a ter outro significado. A vida revelou sua grandiosidade em detalhes antes invisíveis.


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Essa descoberta levou Juliana a escolher o paisagismo como caminho. Quando Clarice voltou de uma temporada nos Estados Unidos, as duas decidiram juntar forças. Juliana começou a cuidar dos projetos e do contato com os clientes; Clarice, da execução e administração. Nasceu assim a JA8 Arquitetura Viva, primeiro dedicada a jardins e paisagismo, depois expandida para praças públicas e espaços urbanos.


Foi nesses projetos maiores que Juliana percebeu que não bastava desenhar plantas ou escolher materiais. Era preciso observar o fluxo da vida: como as pessoas circulam, como os lugares respiram, como a natureza se integra ao cotidiano... Dessa compreensão nasceu o conceito de Arquitetura Viva: espaços que colocam as pessoas e a natureza no centro das decisões; criados para a fauna, a flora e o ser humano conviverem em harmonia. Esse olhar delicado e preocupado com a natureza ganhou reconhecimento internacional. Em 2023, dois projetos da JA8 foram selecionados para a Bienal Internacional da Paisagem de Barcelona.


Em 2025, três novos trabalhos repetem o feito. Para Juliana, a alegria não está apenas na distinção internacional, mas na certeza de que a JA8, nascida no quintal de casa, também dialoga com o mundo.


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Apesar de hoje atuar pelo país e mundo afora, sua maior inspiração continua sendo Florianópolis. “Sou manezinha apaixonada pela minha Ilha”, ela diz, “do vento sul às restingas, da água gelada às montanhas. Viver e amar a natureza se aprende aqui”. Mas amar também significa se preocupar. Juliana sabe que a Ilha está crescendo e deseja que esse crescimento seja sustentável. Mais do que prédios altos, teme a falta de saneamento e a ocupação das áreas sensíveis. Seu sonho é simples e profundo: que, ao sobrevoar a cidade, ainda se veja o mosaico de verde e azul que hoje a define, e que o silêncio de alguns lugares continue existindo.


No fundo, o que Juliana propõe é uma mudança de olhar: arquitetura não em imposição e, sim, em harmonia. Talvez por isso ela repita diariamente, em sua prática de yoga, um mantra que parece sintetizar seu trabalho: “Que todos os seres, em todos os lugares, estejam protegidos, nutridos, felizes e que haja paz”.


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