o Jiu-Jitsu como espelho
- larissashanti
- 21 de set.
- 2 min de leitura
por Alexandre Barros (Xandão)

Comecei no Jiu-Jitsu aos 21 anos; o que é considerado tarde pra quem sonha em competir, mas cedo o suficiente para mudar completamente o rumo da minha vida. Entrei numa academia buscando segurança. Queria me sentir mais forte, saber me defender, encontrar autocontrole. Mas o que encontrei foi algo muito maior: um espelho. O tatame não perdoa mentira, ele mostra quem você é quando está cansado, com medo, com raiva ou cheio de orgulho. Nele, você não se esconde, nem dos outros, nem de si mesmo.
Com o passar dos anos, fui entendendo que o Jiu-Jitsu vai muito além da técnica ou da competição. Claro que ele molda o corpo, mas, acima de tudo, transforma a mente. Vi isso acontecer comigo e muitos outros: crianças tímidas ganharam postura, adultos perdidos reencontraram o foco. Vi homens e mulheres caindo, levantando, perdendo e vencendo, mas sempre crescendo. O tatame ensina mais do que golpes: ensina a respirar quando tudo aperta, a respeitar o tempo das coisas, a entender que não existe atalho.
E mais: ensina que aquele que conhece a própria força não precisa prová-la a todo instante. A verdadeira força, no fundo, é silenciosa.
A cada treino, você volta um pouco diferente. Não porque venceu, mas porque enfrentou. Porque ficou, mesmo cansado. Porque seguiu, mesmo em desvantagem. Porque foi até o fim. Nestes detalhes, o Jiu-Jitsu mostra sua beleza: na construção diária, nos ajustes sutis, no compromisso com a própria evolução. O tatame é um lugar onde todo mundo é igual; lado a lado, o médico e o servente, o empresário e o menino do bairro. Não importa de onde você veio, o que faz da vida ou quanto tem no bolso, quando a luta começa, o que conta é a presença.
É por isso que, mais do que uma academia, busco manter um lugar verdadeiro, onde meus alunos possam se lembrar de que só crescemos quando encaramos o desconforto. Que perder também é aprender. E que levantar com humildade é o que nos torna grandes.

Já formei alunos que começaram comigo adolescentes e hoje são professores. Isso me dá a certeza de que estamos construindo algo que vai além do tatame.
Pra mim, o Jiu-Jitsu sempre teve uma conexão profunda com o mar. Ambos exigem respeito, presença e humildade. O mar, como o tatame, ensina com força. Quem não escuta, aprende na dor. É por isso que sigo nos dois: sigo treinando com meus alunos e sigo buscando minha melhor versão a cada dia. Porque o corpo muda, o tempo passa, mas nossa essência permanece. Se tem uma coisa que o Jiu-Jitsu me ensinou, e que carrego com tudo que sou, é isso: ser verdadeiro.



