o algoritmo da ilha
- larissashanti
- 21 de set.
- 2 min de leitura
Quando o garapuvu se abre e o aracuã canta, a ilha inteira desperta. É um chamado ancestral, quase invisível, que só quem vive aqui entende: o tempo da natureza rege os movimentos antes mesmo do relógio. E, no silêncio da maré, outro pulsar cresce: o da tecnologia. Em Florianópolis, o setor de inovação já corresponde a 25% do PIB municipal, com faturamento de cerca de R$12 bilhões em 2023. É o maior impacto proporcional entre capitais brasileiras. Não é pouco, a Ilha da Magia tornou-se também a capital da inovação no país.

Essa inovação é um tipo de primavera urbana: coworkings brotam perto das dunas, cafés viram viveiros de ideias e soluções digitais ganham sotaque. Um programador pode sair de uma reunião de negócios e, minutos depois, estar surfando nas águas da Joaquina. Essa combinação singular, entre mar, mata e código, cria um ecossistema difícil de replicar. Aqui, o futuro nasce em chinelos, mas com visão global.
Hoje, são mais de 6.100 empresas de tecnologia instaladas na cidade, gerando 38 mil empregos. Isso representa quase metade de todo o setor no estado de Santa Catarina. Mas esses números são mais do que cifras: são sementes. Sementes que valorizam a formação local, atraem investimentos nacionais e internacionais, e abrem novas trilhas profissionais para milhares de jovens que, antes, precisavam deixar a ilha em busca de oportunidades.
Enquanto os algoritmos digitais processam dados, otimizam sistemas e conectam redes, há outro tipo de algoritmo circulando por aqui: mais silencioso, mais ancestral. Um que não roda em máquinas, mas, sim, em corpos atentos. É o algoritmo da intuição. Da empatia. Do olhar sensível. Do gesto que se orienta pelas estações do ano, pelas fases da lua, pelo vento sul que anuncia mudanças.
Ele não pode ser medido em produtividade ou escalabilidade, mas é o que sustenta a cultura que diferencia Florianópolis. É ele que permite que a cidade não seja apenas mais um polo tecnológico, mas um território de experimentação onde se inova sem esquecer do marisco, da renda de bilro, da pesca artesanal e da roda de capoeira na praça.
No Jornal OFFLINE, acreditamos que este também é o nosso sistema operacional. E desconfiamos, com alegria, que seja o dos nossos leitores. Porque, se de um lado vivemos imersos em algoritmos digitais, de outro, seguimos regidos pelos algoritmos invisíveis da vida offline.
Talvez o desafio da nossa época seja esse:
viver entre estes dois mundos sem se perder em nenhum. Deixar que a inteligência artificial nos ajude a resolver problemas complexos e usar dados para projetar cidades mais inteligentes, mas sem esquecer que a cidade é feita de pessoas e histórias.
E, quem sabe, nossa ilha seja o local onde o encontro entre esses dois mundos aconteça de forma mais genuína. Porque, em Florianópolis, o futuro pode até falar a linguagem da tecnologia, mas o coração da ilha continua batendo no compasso da maré.



