top of page

na costura do tempo

  • larissashanti
  • 25 de jun.
  • 3 min de leitura

A alma por trás da Krieger Jeans Work


A Krieger Jeans Works nasceu de um impulso silencioso e poderoso durante a pandemia, quando o mundo parecia suspenso no tempo e o futuro incerto exigia respostas íntimas. Foi nesse intervalo estranho que o fundador da marca, entre idas com a filha às dunas e olhares contemplativos para a Cruz, sentiu que era hora de voltar à origem. Depois de mais de duas décadas trabalhando com jeans, o que o moveu não foi uma ideia de mercado, foi um chamado, um reencontro com a própria história.


ree

Iniciada timidamente em 2020, a Krieger surgiu fazendo calças para amigos, do jeito que ela achava que deveriam ser: autênticas, robustas, com alma. Logo depois, Leandro Jardim chegou trazendo a energia comercial de São Paulo. Em seguida, Maurício Pellizzari se juntou ao time, traduzindo o espírito da marca em imagens e sons, e construindo um universo onde arte e música se fundem à estética do jeans.


O ateliê, que hoje abriga a Krieger, começou como um refúgio criativo numa casa de madeira na Isaltina, Florianópolis. Naquele espaço modesto, Maurício e o fundador passavam horas entre conversas, boa música e os primeiros cortes de tecido. Aos poucos, o local foi se transformando em oficina: chegaram os tecidos, a mesa de corte, a máquina caseadeira Reece, os aviamentos… Em meio à simplicidade, nasceu algo poderoso.


"a marca nasceu com o compromisso de apoiar

e valorizar os artesãos que ainda resistem"


A trajetória da marca é artesanal no melhor sentido da palavra. Cada passo foi dado com as próprias mãos: da escolha das matérias-primas à costura final. Desde o início, o compromisso foi com o capricho e com a integridade do processo. O foco sempre esteve no produto. Mais da metade da coleção é composta por peças RAW, que não passam por lavanderia e evitam o desperdício de água. Algo que, por si só, já posiciona a Krieger em oposição direta ao modelo de fast fashion.



Mas o que sustenta a Krieger vai além do cuidado técnico. Há uma ética por trás de cada decisão. Em um setor onde a degradação da cadeia produtiva se tornou regra, a marca nasceu com o compromisso de apoiar e valorizar os artesãos que ainda resistem. O orgulho com que as costureiras entregam cada peça é algo que se sente. É o tipo de energia que se transfere para quem veste.


Os jeans da Krieger não são apenas roupas: são companheiros de vida. As peças RAW e Selvedge, feitas com algodão rígido 100%, têm personalidade. São como cavalos chucros que precisam ser domados até se moldarem ao corpo do dono. Com o tempo, ganham marcas, memórias e uma beleza que só o uso pode esculpir. Não à toa, algumas das primeiras calças feitas pela marca já voltaram para ajustes depois de anos de uso. Chegaram desgastadas, únicas e cheias de histórias, mas nunca para serem descartadas. O fundador confessa: sempre tenta ficar com elas, mas os donos não aceitam abrir mão.


ree

Essa ligação com a durabilidade tem raízes familiares. O bisavô do fundador, junto a seus irmãos, deu origem, em 1898, à uma alfaiataria que mais tarde virou a Indústria Krieger — um dos grandes nomes do jeans catarinense no século XX. Encerrada em 1998, a fábrica deixou como herança o cuidado com o produto; valor que sobrevive, agora em escala artesanal, nos detalhes de cada peça atual.


A Krieger trabalha majoritariamente com insumos brasileiros, numa escolha que combina qualidade e consciência. O algodão vem de uma das cadeias mais sustentáveis do mundo, com mais de 90% de irrigação natural — uma raridade global. O critério, aqui, nunca foi o preço, mas sim a excelência. Essa lógica também se aplica ao posicionamento da marca frente ao mercado.


Em um mundo saturado de descartabilidade, a Krieger aposta no oposto: na relação afetiva com a roupa, na produção justa, na beleza que resiste ao tempo. O maior desafio é o mesmo de qualquer pequeno produtor: explicar por que algo feito com cuidado custa mais, demora mais e, paradoxalmente, vale mais. Mas quando essa mensagem passa, ela transforma. “É um ciclo positivo que se fecha”, dizem lembrando, com alegria, das costureiras entregando peças com brilho nos olhos.


Se a Krieger fosse uma pessoa, seria alguém com estilo descomplicado e alma de artista. Conectada à natureza, apaixonada por tradição, atenta aos detalhes. E se a marca tem uma missão, é essa:

provar que há espaço, hoje e no futuro, para roupas feitas com carinho e verdade. Que o jeans pode, sim, carregar alma. Que vestir uma peça é também vestir uma história.

ree

bottom of page