feira NUA
- larissashanti
- 25 de jun.
- 3 min de leitura
Um movimento que resgata o prazer de beber com consciência e consagra os pequenos produtores que tornam isso possível.
Existe algo mágico em abrir uma garrafa de vinho natural. Antes mesmo do primeiro gole, já se intui que ali dentro há mais do que sabor: há terra, tempo, cuidado, transformação. Há a assinatura invisível de quem colheu a uva, acompanhou a fermentação e, com mãos firmes e olhos atentos, conduziu o vinho ao seu próprio caminho.

Cada vez mais, esse tipo de vinho vem ganhando espaço entre aqueles que buscam não apenas o prazer da bebida, mas também a verdade por trás dela. Um vinho que não é industrial, nem domesticado. É vivo. E por isso mesmo, surpreendente.
O que é vinho natural, afinal?
É aquele feito apenas com uvas e intenção. A fermentação acontece de forma espontânea, com leveduras selvagens que já estão presentes na própria fruta. Sem aditivos químicos, sem corretores de sabor, sem leveduras manipuladas.
O resultado é um vinho que respira. Que muda com o tempo, que guarda, dentro da garrafa, a memória do solo, do clima, do ano da safra. Um vinho que carrega, mais do que tudo, a alma de quem o fez.
E, como todo ser vivo, ele pode ser mais ácido, mais turvo, mais instável. Mas também mais expressivo, mais tocante. Há quem se apaixone na primeira taça. Há quem precise reaprender a beber e a enxergar o que está por trás do paladar. Mas poucos saem ilesos desta experiência.
Produtores que fazem com o coração
Por trás destes vinhos, quase sempre estão pequenos produtores que vivem com intensidade cada etapa do processo. É o caso de Neusa e Zulmir Delucca, de Caçapava do Sul (RS). Mantendo um vinhedo orgânico, cercado por plantações de soja, eles cultivam variedades quase esquecidas, como a Peverella. Produzindo os vinhos com as próprias mãos, eles respeitam o tempo das uvas e o silêncio da terra. Hoje, seu vinhedo virou refúgio de animais silvestres e símbolo de resistência.
Mas essa é apenas uma entre tantas histórias. Famílias na Serra Gaúcha, jovens empreendedores em Santa Catarina, coletivos de viticultores no interior do estado… Cada um com seu terroir, sua técnica, sua visão. Todos unidos por um ideal: fazer vinho com verdade. Sem pressa, sem veneno, sem fórmula.
Feira NUA: vinho, afeto e propósito
Foi para celebrar esses produtores, e aproximar o público desse universo, que nasceu a Feira NUA, idealizada por Lucas Olivella — um entusiasta do vinho natural, e um indivíduo com os pés fincados em ideais maiores: regeneração, saúde, conexão com a natureza e com quem produz.

A segunda edição da Feira aconteceu no dia 17 de maio de 2025, no Shopping OKA, em Florianópolis. Mais de 150 rótulos foram disponibilizados para degustação e venda direta. Mas o mais especial foi o clima: leve, curioso, acolhedor. Um público colorido e pulsante, com muitos jovens, marcou presença. Gente disposta a experimentar e aprender. Gente que vê na escolha do que se bebe uma extensão de seus valores.
A NUA mostrou que essa nova geração está atenta, quer saber o que coloca pra dentro, valoriza quem produz com alma e se interessa genuinamente por processos mais humanos.
Lucas, com seu jeito tranquilo e determinado, contou que a feira nasceu de uma inquietação pessoal. O desconforto com certos vinhos levou à descoberta dos naturais, e, com eles, de um novo modo de se relacionar com o que se bebe. A NUA, portanto, não é apenas uma feira: é um desdobramento do seu modo de ver o mundo. Um espaço onde beber também é um ato de cuidado.
Brindar com consciência
Optar por um vinho natural é, muitas vezes, optar por uma cadeia mais justa. É apoiar pequenos produtores, valorizar a agricultura viva, consumir com mais presença. É deixar de ver o vinho como um produto fechado e começar a vê-lo como um processo contínuo que começa na terra e segue dentro da gente.
A Feira NUA nos lembrou disso: de que há muitas formas de brindar. Se você ainda não provou um vinho natural, essa é uma boa hora para começar. Deguste com atenção. Converse com produtores. Abra espaço para o inusitado. Porque, às vezes, o que parece estranho no início pode se revelar inesquecível.
E, enquanto os últimos aromas da Feira NUA ainda ecoam na memória, fica uma pergunta no ar: que surpresas a NUA nos reserva?
Estamos prontos, e sedentos.