deixe Cair: o que o outono têm a nos ensinar sobre o desapego
- Carol Del Lama
- 24 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de mar.
O outono chega sem pedir licença. Um dia, você acorda e percebe que o vento mudou. O ar tem um peso diferente, um cheiro quase imperceptível de transição. As folhas, que antes eram verdes e exuberantes, começam a dourar, avermelhar, soltar-se dos galhos e cair. Não lutam contra a gravidade, não tentam segurar-se desesperadamente. Simplesmente caem. E, ao cair, cumprem um ciclo.
Olhamos para essa dança silenciosa da natureza como espectadores, mas raramente percebemos o convite que ela nos faz. O outono não é apenas uma estação, é um estado de espírito. Um chamado para soltar aquilo que já não nos serve, aquilo que carregamos por inércia, pelo medo de perder ou, pior, pelo medo do vazio que fica depois.

Desapegar é um dos atos mais desafiadores e libertadores que existem. Vivemos cercados por excessos — objetos que não usamos, compromissos que não queremos, relações que não fazem mais sentido, pensamentos que nos aprisionam. Guardamos tudo como se a permanência fosse uma garantia de segurança, como se manter fosse sempre melhor do que deixar ir. Mas e se, ao invés de segurar, aprendêssemos a cair com graça, como as folhas?
Florianópolis e o Eterno Fluxo
A Ilha da Magia tem sua própria forma de nos lembrar da impermanência. O mar nunca é o mesmo de um dia para o outro. A maré sobe e desce, redesenha a paisagem, leva embora pegadas, traz novos tesouros. O vento que sopra do Norte no verão se despede para dar lugar ao Minuano, que chega forte no outono, carregando ares de mudança.
Aqui, a natureza nos ensina que tudo está em constante movimento. As dunas se deslocam, as lagoas se expandem e se retraem, os surfistas entendem que cada onda tem seu tempo e sua forma. Resistir a isso é lutar contra o inevitável. Mas e se, ao invés de resistir, aprendêssemos a fluir?
A Ilusão do Para Sempre
Desde cedo, nos ensinam a valorizar o acúmulo. Colecionamos brinquedos, depois diplomas, depois conquistas. Vamos enchendo prateleiras, gavetas, agendas. Trabalhamos para comprar mais, fazemos planos de longo prazo, nutrimos vínculos por pura obrigação. Queremos raízes profundas, sólidas, inabaláveis. Mas ignoramos o fato de que tudo, absolutamente tudo, é passageiro. E que a vida acontece justamente nos vazios entre um ciclo e outro.
Quando foi que desapegar virou sinônimo de perda? Por que temos tanto medo de abrir espaço? O outono nos lembra que há uma beleza imensa no ato de soltar, de confiar no fluxo, de deixar ir o que já cumpriu seu papel.
O Peso Invisível
Experimente olhar ao redor. O que há na sua casa que você não usa mais? No seu guarda-roupa, o que só ocupa espaço? E dentro de você? Que histórias você continua contando, que dores você insiste em carregar, que versões de si mesmo você não permite que mudem?
O peso do que acumulamos não se mede apenas em quilos ou volume, mas em energia, em tempo, em espaço mental. Às vezes, a verdadeira leveza vem do vazio. E o vazio não precisa ser assustador. Ele pode ser um convite, uma página em branco, um respiro.
Soltar Não é Perder, é Permitir
As árvores nunca hesitam em deixar suas folhas irem. Elas não choram por cada pedaço que se desprende. Sabem que, depois do outono e do inverno, uma nova estação virá. Que a perda aparente é apenas uma preparação para o renascimento.
E se fizéssemos o mesmo? Se deixássemos para trás o que já não faz sentido, confiando que o espaço livre será preenchido pelo novo, pelo inesperado, pelo necessário?
Soltar não significa esquecer, abandonar ou rejeitar. Significa confiar que a vida continua, que os ciclos se fecham para que outros possam começar.
Este outono, permita-se desapegar. De algo material, de uma expectativa, de uma ideia fixa. Sinta o alívio de abrir espaço. Talvez seja exatamente disso que você precisa.
E você, o que precisa soltar?
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Quem sabe, ao compartilhar seu desapego, você inspire alguém a soltar também?
O outono já começou. A pergunta é: você está pronto para cair com ele?