a lenda de Conceição e Peri
- larissashanti
- 21 de set.
- 2 min de leitura
Dizem (e aqui na ilha o que se diz costuma ser verdade) que, há muito tempo, quando a mata ainda falava e o vento carregava segredos, uma jovem bruxa, chamada Conceição, caminhava sozinha pelos verdes do sul da Ilha de Santa Catarina. Tinha os olhos cheios de estrelas e a alma inquieta, como quem carrega no corpo o presságio de um encontro.
Foi em uma dessas noites preguiçosas, em que a lua se espreguiça sobre a lagoa, que ela viu pela primeira vez Peri: um jovem guerreiro indígena, valente e silencioso, que observava a água como quem conversa com os espíritos. Os dois se olharam e não foi preciso dizer nada. Era o encontro de dois mundos, unidos por um amor à primeira vista.
Durante semanas, se encontraram em segredo à beira da lagoa, onde a noite os protegia e o vento escondia suas promessas.

Mas o amor entre eles era proibido; nem as bruxas queriam, nem os anciãos da aldeia permitiam. Ela era filha da lua. Ele, da terra. E isso, naquela época, bastava para que o mundo tentasse separá-los.
E separaram. Um dia, foram descobertos. As irmãs de Conceição, e os mais velhos da tribo, condenaram o romance com dureza. Dizem que a ilha inteira estremeceu quando o feitiço foi lançado. Para que nunca mais se encontrassem, Peri foi transformado em lagoa. Uma lagoa de águas doces, tranquilas e tão profundas quanto o amor que sentia. A Lagoa do Peri, dizem, tem o formato de um coração. É ele, ainda ali, pulsando em silêncio.
Conceição, ao ver seu amado transformado, chorou. Chorou dias e noites, como só choram os que amam além do tempo. Suas lágrimas correram pela encosta e formaram outra lagoa, mas, desta vez, de águas salgadas, vastas e inquietas, como a saudade que ficou.
Assim nasceu a Lagoa da Conceição.
Até hoje, as duas lagoas vivem separadas, cada uma em seu canto da ilha. Mas há quem diga que, em certas manhãs de primavera, quando o sol dança por entre a neblina e os pássaros pousam em silêncio nas margens, a água vibra diferente. Como se os corações de Conceição e Peri ainda se reconhecessem.
Talvez seja apenas lenda.
Ou talvez seja um lembrete: o amor verdadeiro, mesmo impedido, nunca deixa de florescer. Ele sempre encontra caminho. Mesmo em forma de lagoa.



