o que me chamou foi o silêncio
- larissashanti
- 21 de set.
- 2 min de leitura
Por: Ângela Prazeres
Quando vi aquele pedaço de terra, pela primeira vez, do alto do Sertão do Ribeirão, o que me chamou não foi o visual deslumbrante, nem o verde profundo da mata nativa, nem mesmo as nascentes que correm até a Lagoa do Peri ( fonte de água para mais de 100 mil pessoas no leste da Ilha), o que me chamou foi o silêncio. Um silêncio vivo, potente, que me atravessou e me disse: aqui pode nascer um santuário.
Naquela hora, em 2016, eu soube que aquele seria o lugar onde eu ancoraria um espaço de cura e bem-estar, voltado à transformação pessoal e coletiva. Um oásis para quem busca conexão com a natureza, com a espiritualidade, com o próprio corpo, com aquilo que não se explica, só se sente.
Foi assim que nasceu o Instituto Seiva. Construímos tudo com o máximo de cuidado e o mínimo de impacto. Escolhemos o domo geodésico pela sua geometria sagrada, pela leveza na estrutura e pelo que ele representa: um ventre seguro para práticas como yoga, meditação e terapias integrativas.
Não há festas e não se vende bebida alcoólica por aqui, esse é um espaço sagrado, onde se reza o rio, se cuida da mata, se escuta o que não tem som.
Plantamos mais de 1.500 árvores nativas para proteger os leitos das nascentes, resgatamos trilhas esquecidas, abrimos espaço para cerimônias, encontros e reconexões.
No início da pandemia, em 2020, começamos com aulas de yoga gratuitas para adultos e crianças da comunidade local. Essa mesma turma seguiu comigo por cinco anos, formando quatro professores. Foi tudo muito orgânico, como a vida costuma ser quando flui docoração. O trabalho com as medicinas da floresta também chegou assim: naturalmente, pelas conexões que construí com os povos Huni Kuin, Yawanawá e Shipibo. Acolhemos, aqui, cerimônias conduzidas com profundo respeito por pajés e líderes espirituais que honram suas tradições. Ao lado disso tudo, oferecemos vivências como temazcal, trilhas em silêncio, banho de gelo, círculos de canto, alimentação consciente, dança, respiração, mantras, massagem ao ar livre, sound healing... tudo que, de alguma forma, resgate o corpo e desamarre a mente.
Hoje sigo com o mesmo coração inquieto, alegre e intuitivo. Criando caminhos que conectam pessoas, natureza e espiritualidade. Caminhos que lembram que a verdadeira cura não está distante e, sim, no encontro com o simples, com o essencial, com aquilo que é vivo e verdadeiro.

Ângela Prazeres é empresária, produtora e professora de yoga. Amante da natureza e das culturas ancestrais, idealiza projetos de bem-estar com foco na transformação pessoal, conexão espiritual e consciência coletiva.



