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Pedro Barros: conexões, prioridades, tempo, vida

  • Foto do escritor: Carol Del Lama
    Carol Del Lama
  • 28 de fev.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 11 de mar.

Entrevista: Cadu Zahran


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O caminho para a casa do Pedro sempre me parece um portal.

Entrar vale adentro, na Cova Funda, é atravessar um limiar onde a ansiedade e a expectativa caminham lado a lado.

Já estive ali em diferentes ocasiões — nos festivais de skate, acompanhando de perto a energia da pista dentro do Complexo dos Barros, ou em momentos mais intimistas, cercado por amigos e familiares. Mas, independentemente do contexto, estar ao lado da figura que redefiniu o skate nos últimos 20 anos, segundo os maiores nomes da cena mundial, é sempre uma experiência extraordinária.

Nesta visita, o foco não era o skate, mas a vida e o amor. Conversamos sobre esses temas enquanto, mais uma vez, eu observava sua intensidade em tudo que faz. Cada gesto de Pedro carrega um propósito, um ritmo próprio.

Ao chegar à sua casa, um detalhe me chamou a atenção: uma belíssima máquina de café repousava sobre a bancada. O que se seguiu foi quase um ritual. Com precisão meticulosa, ele seguiu cada etapa do preparo, como se estivesse lapidando um movimento novo na pista. O resultado? Um macchiato simplesmente perfeito.

Pedro me entregou a xícara, olhou-me com aquela calma peculiar e, então, começamos a conversar…


De que forma sua trajetória e o ambiente em que cresceu influenciaram quem você é hoje?

“De onde eu venho, de como fui criado e do ambiente em que vivi, tudo isso molda quem eu sou hoje. A energia que fluiu ao meu redor durante a vida é algo difícil de descrever, mas ela está profundamente presente no que faço.

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É curioso pensar que, muitas vezes, ao dar entrevistas ou compartilhar algo, parece que buscamos nos encaixar em padrões para sermos aceitos. Mas o que aprendi é que não existe um padrão único.



Nossa percepção da realidade é realmente nossa ou é moldada pelo ambiente e pelas influências externas?

Cada pessoa se comunica consigo mesma e com o mundo de um jeito único, baseado na forma como percebe a realidade, que não é universal ou completa, mas sim moldada pelo corpo, pela mente e pelo ambiente em que estamos inseridos.

Quando estou nas pistas ou falando fora delas, não há nada planejado ou forçado; tudo é sentido. Essa é, para mim, a maneira mais pura de ser. É algo natural, orgânico, e eu acredito que é assim que devo viver e me expressar: sentindo, sendo, vibrando, deixando acontecer. Muitas vezes, o que dizemos não vem de nós mesmos, mas de influências externas. No entanto, há verdades dentro de nós tão sólidas que ninguém pode mudar. É como olhar para a própria mão e ver cinco dedos – é o que é, inquestionável.

Eu sou o resultado de tudo o que já interagiu comigo: minha família, Florianópolis, as viagens, as experiências, a música, a arte, a moda, e até as energias daqueles que vieram antes de mim. O que meu avô viveu, mesmo sem eu tê-lo conhecido bem, está aqui. Tudo vibra e contribui. Por isso, minha preocupação não é tanto com o amanhã ou o ontem, mas com o agora – fazer acontecer, viver os sonhos no presente, sem paranoias. Afinal, tudo está conectado.


Como encontrar equilíbrio entre o imediatismo do mundo moderno e a necessidade de viver o presente com propósito?
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“Espiritualidade e materialidade coexistem, embora a gente pouco fale sobre isso. Quem aborda essas questões às vezes é visto como ‘viajante’ ou ‘doidão’. Mas, no fundo, é sobre equilíbrio.

No mundo capitalista e desconectado em que vivemos, meu desafio é me manter centrado e transmitir essa mensagem para que mais pessoas encontrem esse equilíbrio.

Minhas inspirações vêm do cotidiano: uma pessoa passando na rua, um olhar que parece familiar, uma conexão inexplicável. Esses momentos nos lembram que somos, por natureza, seres coletivos, conectados por algo maior.

A comunicação é essencial, mas ainda operamos de maneira limitada nesse aspecto. Precisamos ser mais humildes para reconhecer isso.

Sempre me lembro que ainda estou longe do meu potencial máximo. Sei que sempre há mais para aprender, explorar e superar. Sou crítico comigo mesmo porque é esse senso crítico que me trouxe até aqui.

O que quero transmitir é que, como humanidade, estamos apenas arranhando a superfície do que podemos ser. Estamos longe de explorar nosso verdadeiro potencial – seja se teletransportar, comunicar por telepatia ou viver em harmonia.

Essa é a grande questão: como desbravar um universo tão vasto e fascinante de forma profunda, verdadeira e enriquecedora?

O caminho é conectar-se à nossa origem, à nossa natureza, que é a materialização do amor e da fé. É algo que está em tudo.

Outro dia, li uma frase em um livro que a Isa, minha namorada, me deu. Dizia algo assim: “Uma semente precisa de muita fé para entrar na terra, naquela escuridão, e se transformar em flor ou árvore.”

E essa fé não é só para ela. É para o fruto que vai alimentar animais, humanos, a natureza. É um ciclo. Se isso não é amor e fé em sua essência, eu não sei o que é.


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Será que estamos cuidando do espaço e da comunidade que ajudamos a transformar?

“Agora, trazendo isso para o presente: olha o que está acontecendo aqui no Rio Tavares. Há 20 anos, ninguém imaginava que pessoas do Brasil inteiro viriam para cá. Meu pai me levou a uma etapa do campeonato mundial na Praia Mole, em 1998. Naquela época, a Mole nem existia como ponto turístico. As casas olhavam para os morros, não para o mar.


Hoje, o bairro se transformou em um ambiente cheio de saúde e abundância, mas será que estamos cuidando disso?

Se a gente olhar para a comunidade, para os valores que existiam antes – como a ajuda mútua, a união no engenho de farinha ou na época da pesca da tainha –, vamos perceber que isso está se perdendo.


O que realmente significa sucesso?

“Aprendi que a gente não precisa se deslumbrar com tudo o que o mundo oferece. O mais importante é valorizar aquilo que realmente é especial pra você. Às vezes, a busca pelo ‘mais’ te faz esquecer o valor do que você já tem.

Então, descobrir o que é suficiente e se agarrar nisso pode ser o maior aprendizado. Afinal, no meio de tanta informação e possibilidades, o verdadeiro valor está nas coisas que realmente tocam o coração.

No fim das contas, precisamos buscar soluções que garantam harmonia, tanto para as pessoas quanto para o ambiente. Cada ação tem um impacto. Por menor que seja, ela reverbera na comunidade, na natureza, em tudo ao nosso redor.

É hora de construir com propósito. Relações sólidas, histórias consistentes, projetos que tenham um impacto positivo real. Isso, sim, é sucesso.

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