de Florianópolis ao tri mundial: as lutas de Tainan Dalpra
- larissashanti
- 21 de set.
- 3 min de leitura
Aos 5 anos, Tainan Dalpra pisou pela primeira vez em um tatame; aos 14, deixou Florianópolis, rumo aos Estados Unidos, com um kimono na mala e um sonho na cabeça; aos 20, já era campeão mundial faixa-preta. Hoje, aos 24, referência mundial e inspiração para uma
geração inteira de atletas, carrega três títulos mundiais na categoria mais disputada do jiu-jitsu e um legado que só cresce.

Qual foi a maior lição que o tatame lhe deu?
O jiu-jitsu é fascinante porque age em várias camadas da vida. Para mim, ele vai além da competição: é educação, é realização pessoal, é poder viver do esporte, ensinar e ver cada aluno evoluindo. Mas, como em todo caminho, existem altos e baixos. Assim como aprendemos a buscar a vitória, também precisamos aprender a aceitar a submissão e recomeçar. É nessa humildade de levantar em silêncio que mora uma das maiores lições do jiu-jitsu.
Seu pai foi quem te colocou no jiu-jitsu ainda pequeno. O que ele representa pra você?
Meu pai acreditou no meu sonho desde o início. Ele e minha mãe fizeram muitos sacrifícios, financeiros e emocionais. Isso me inspirou a querer vencer para não decepcioná-los. Uma lembrança muito forte é das conversas que tínhamos no carro, voltando dos treinos. Sonhávamos que um dia viajaríamos o mundo ensinando e competindo. Hoje, poder realizar esse sonho ao lado deles me traz uma satisfação enorme.
Você se mudou para treinar fora muito jovem. Como foi esse começo longe de casa?

Com 8 ou 9 anos eu já competia em nível nacional e, como em Santa Catarina não havia tantos campeonatos para crianças, viajamos para os Estados Unidos. Lá, vimos o quanto o país estava à frente em organização e desenvolvimento do esporte. Aos 14 anos, decidimos que eu me mudaria de vez. Meu pai ficou comigo por seis meses para minha adaptação. Quando voltou ao Brasil, me disse: “Se sentir tristeza ou dificuldade, me fala que mando a passagem de volta”. Suportar essa mudança de país, de cultura e de rotina exigiu tanto de mim quanto qualquer luta, ou talvez até mais. Senti muita saudade, mas nunca pensei em desistir, pelo contrário, recebi muito apoio das pessoas ao meu redor e segui firme no meu objetivo: ser campeão mundial faixa-preta.
Qual foi a luta que mais te atravessou emocionalmente, não pela vitória ou pela derrota, mas pela carga que ela carregava?
Participei de cinco mundiais e conquistei três títulos (além de um vice), mas esse último campeonato teve um peso especial. Nos dois primeiros, fui campeão. No terceiro, perdi a final por duas vantagens. No quarto, fui desclassificado em uma posição que até hoje gera debate. Então cheguei ao quinto mundial cheio de dúvidas, inseguranças e medo. Com o apoio do meu treinador, consegui me concentrar e dar o meu melhor. A vitória veio como um alívio imenso, uma sensação de dever cumprido. O tri mundial foi mais do que uma conquista: foi superar barreiras internas e mostrar para mim mesmo que eu era capaz.

Floripa é tua origem, o que da Ilha te acompanha até hoje?
Florianópolis é única. Sinto falta da diversidade da ilha e, claro, da gastronomia. Não existe sensação melhor do que comer um peixe fresco ou um camarão grelhado na beira da praia. Isso sempre me transporta de volta para casa.
O que existe de mais suave em você que ninguém vê?
Sou uma pessoa tranquila. Nos meus poucos momentos livres, gosto de ficar em casa, ler e me aprofundar em biografias de pessoas visionárias. Tenho uma boa coleção de livros. Também amo trabalhar com crianças, o que me tornou uma pessoa mais compreensiva. Muitas desistem do esporte porque não encontram professores que
saibam lidar com elas. É aí que nasce a parte mais suave de mim.
Você leiloou um kimono por uma causa social. O que te moveu a este gesto?
Acredito muito na lei do retorno. Como a vida foi generosa comigo, sinto que devo retribuir. Sempre que posso, incentivo mini atletas. Junto com meu pai, sonho em criar um espaço para oferecer aulas gratuitas à comunidade onde cresci. Penso nisso diariamente e pretendo realizar quando me aposentar das competições.
Imagina que agora tem um menino lendo essa matéria em Floripa, sem estrutura, mas com vontade. O que você diria pra ele seguir adiante?
Eu também já estive nesse lugar e sei o quanto é difícil sonhar grande. Por isso, sempre digo: não existe fórmula mágica. Existe trabalho duro, disciplina e planejamento. São pilares que sustentam qualquer sonho.
“Não é só sobre vencer, é sobre cair, levantar em silêncio e recomeçar.”




