um pouco de Sul da ilha
- Carol Del Lama
- 24 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de mar.
por Thai Pasin

Thai aqui, prazer!
Sou aquela ali, quase sumindo na foto aqui do lado, de braços erguidos para o céu, agradecendo à sorte grande de ter nascido onde o mar abraça a gente todo dia: Floripa.
Manézinha, nascida e criada, filha legítima da ponte Hercílio Luz, carrego o sotaque que canta e o espírito leve de quem cresce entre causos e maresia. “Nasci na maternidade Carmela Dutra”, repito com orgulho, porque, aqui na Ilha, isso vale como carteirinha de autenticidade. O termo “manézinho”, ao contrário do que os desavisados possam pensar, é uma gíria não pejorativa usada pelos próprios habitantes de Florianópolis para se referirem a si mesmos.
E não à toa fui convidada para ser colaboradora desse jornal descolado, porque – parafraseando o Dazaranha – “sou gente boa, sou daqui”. Sou aquela que transita em qualquer lugar dessa ilha: de chinelo na Lagoa à balada eletrônica em Jurerê, do estilo mais cosmopolita do Centro ao pastel de camarão pé na areia da Praia do Campeche, do Bloco dos Sujos na Praça XV ao extinto Bar do Pirata na Praia Brava.
Morei no Cacupé, Ingleses, Lagoa, Joaquina, Campeche… Hoje, vivo no Rio Tavares e pretendo nunca mais sair. Digo HOJE, porque, se tem uma coisa que aprendi, é que Floripa está sempre nos mudando de lugar, às vezes para dentro de nós mesmos… E ensina que pertencimento não é só sobre lugar, mas sobre sentimento. Que privilégio poder dizer que encontrei o meu lugar no mundo. Isso é para poucos.
Mas nem sempre pensei assim. Há 20 anos, eu era apenas uma menina de 22 anos, estudante, que morava com os pais no Centro e trabalhava como promoter nas melhores baladas de Jurerê. Sim, a vida era boa!

Quando meus pais se separaram, minha mãe disse que estava pensando em se mudar para o Campeche/Rio Tavares. Claro que a “patricinha” aqui, residente da Av. Beira-Mar Norte, torceu o nariz e disse: “Mãe, lá só tem mato, é tudo sítio. Vou fazer o quê lá? Nem chegar lá eu sei.” Lembro das minhas amigas comentando: “Minha nossa, lá é muito roots, só tem bicho grilo.”
Até hoje tenho lembrança de algumas festas que fui no sítio do Nego Jorge, um guri do colégio que era dono do terreno onde hoje é a Escola Dinâmica Leste (sim, a escola onde meus filhos estudam e se tornam seres evoluídos já foi palco de muitas baladas e histórias pra contar). Era muito hip-hop com DJ Pinho Menezes, shows do John Bala Jones e uma pista de dança improvisada numa casinha de tijolinho à vista que, surpreendentemente, ainda está de pé.
Chegar até lá, na escuridão, com um carro lotado de amigas e nenhum mapa que prestasse, era uma jornada digna de filme. Mas valeu cada perrengue para poder estar aqui hoje escrevendo sobre isso.

Pausa para um conto: reza a lenda que, em uma dessas festas à fantasia, ninguém menos que o manézinho mais amado do Brasil, Guga Kuerten – no auge da sua carreira – estava lá, mascarado, e ninguém percebeu.
Enfim, hoje, quando respiro o ar salgado do bairro e vejo as ruas ganhando vida, penso em como minha mãe foi visionária. E essa foto comprova. Aquele “mato todo” se transformou em um dos lugares mais desejados da Ilha, e o que chamavam de “roots” agora é sinônimo de autenticidade.
Dizem que é a “Califórnia Brasileira” – eu não discordo. Um lugar vibrante, onde a natureza dita o ritmo, a qualidade de vida é regra, saúde é estilo de vida, e o esporte se respira em cada esquina. Realmente, uma vibe única!



