a menina de ouro do surfe
- larissashanti
- 21 de set.
- 3 min de leitura
por: Pinho Menezes
Metaforicamente falando, a Praia Mole e uma garota se preparando para sua festa de 15 anos faziam a mesma coisa. Ambas sonhavam, se arrumavam e esperavam ansiosamente pelo grande dia.
Bira Schauffert foi o grande responsável pela chegada dos campeonatos de surfe à Mole. Apaixonado pelo esporte e pela praia, ele organizava eventos na Joaquina: a então considerada “Maracanã do surfe” pelas suas ondas perfeitas. Mas, anos depois, por motivos pessoais, decidiu mudar de praia. E acertou em cheio! A Praia Mole estava pronta! Como os pais que organizam com carinho a festa de debutante da filha, ela também se preparava, se embelezava, à espera de um momento que já era dela por direito.
Mesmo com a hegemonia dos campeonatos na Joaquina, a Praia Mole sempre foi a “menina dos olhos” de Floripa. Uma praia única, frequentada por todas as tribos e gerações. Como dizia Cacau Menezes: “Ó beautiful people da ilha se encontra na Mole”.
O mix de esportes era impressionante: skate, parapente, futevôlei, frescobol, altinha, trilhas, yoga e natação em mar aberto. Todos encontravam, ali, o seu espaço.
Esse ambiente diverso fez da Mole uma praia singular no mundo.

E, há exatos 27 anos, ela viveu seu momento de estreia: o primeiro Maresia Surf Floripa. Altas ondas, inverno, praia lotada e os melhores do mundo na água. O australiano, Jake Paterson, venceu a primeira edição enquanto festas memoráveis tomavam conta da ilha. Era 1997, e Floripa vivia o que hoje se vive no Rosa.
No ano seguinte, veio a vitória de Neco Padaratz. Foi ali que nasceu sua paixão pela Mole. Ele passou a morar na praia; surfando diariamente, se tornou bicampeão do circuito WQS: a divisão de acesso à elite do surfe mundial. Neco dizia com convicção: “Quem surfa bem na Mole, surfa bem em qualquer lugar do mundo”.

Em 2009, Neco protagonizou uma final histórica contra um garoto de apenas 15 anos (na época, ainda desconhecido). Esse garoto virou homem e seu nome é Gabriel Medina.
Aquela final foi em um dia de sol, com praia cheia e ondas pequenas. Mas o encanto da Mole não está apenas nas ondas e, sim, no seu conjunto: o astral, o cenário, o espírito.
Um campeonato aqui não precisa de ondas perfeitas, só precisa acontecer, o resto é a mágica da Mole. É uma verdadeira celebração da cultura, da praia e dos esportes.
Desde o Maresia Surf Floripa, já foram 14 etapas do WQS na Praia Mole, entre elas o Reef Brasil Classic, o Onbongo Pro Surfi ng e, mais recentemente, o LayBack Surf Festival. Entre os campeões, nomes como: Trent Munro, Patrick Beven, Neco Padaratz, Chris Davidson, Jake Paterson, Gabriel Medina e, mais recentemente, os catarinenses Lucas Silveira e Tainá Hinckel.
Anos depois, mesmo com a chegada de etapas da elite mundial do surfe em Santa Catarina, a Praia Mole não foi escolhida como sede. Mesmo assim, era ali que os surfistas queriam estar nos dias sem ondas e nas noites de descanso. O hotel parecia a entrada de uma balada: fãs esperando por seus ídolos na porta, sonhando com a tão desejada foto.
Kelly Slater se hospedou na Mole. Também passaram por lá Mick Fanning, Joel Parkinson, Taj Burrow e os irmãos Andy e Bruce Irons. O Barraco da Mole virou ponto fixo da Billabong por vários anos, com sessões diárias de autógrafos e um som maneiro embalando a praia.

Quem viveu essa época, viveu dias que pareciam eternos, em que o surfe era só a desculpa para reunir gente apaixonada pela praia, pela liberdade, pela vida vivida lá fora. Agora, seguimos esperançosos, porque a Mole continua lá: linda, vibrante, com a mesma luz de sempre e esperando o próximo grande
momento. Como aquela menina que um dia debutou sob os olhos do mundo e, agora, madura e intensa, sonha com um novo baile à beira-mar.
Em novembro, o CBSurf Dream Tour traz de volta esse brilho. E a Praia Mole, como sempre, estará vestida de sol, coberta de histórias e com os braços abertos para o que ainda está por vir.



